
Desivaldo acordou cedo e foi terminar seu livro, abriu um sorriso logo no final da tarde, seus olhos brilhavam, também tinha esclarecido as ideias, como costuma dizer, após ler o livro O capital de Karl Marx, e entendido o conceito de mais valia, a grosso modo, o lucro do capitalista, percebeu que sempre foi e sempre seria explorado, e não passaria de um meio para que o empresário pudesse comprar sua força de trabalho a preço de banana, dado o enorme lucro que tinha com seu trabalho. Sim, trabalhava na fábrica das bicicletas, chamada RICCO, engraçado o nome pensou, ele , o dono, da empresa já tinha a riqueza a custo da exploração do trabalhador, estampada nos adesivos das bicicletas.
E assim na segunda-feira foi feliz trabalhar, pensando ser o último dia, já que não seria explorado mais pelo “velho capitalista”. Mas iria viver do quê? Sem trabalho pensava?
A resposta veio rápido: Viver da troca, como nos primórdios da civilização humana, com um pouco de paciência poderia trocar o que quisesse, quando aquilo não o conviesse.
Desivaldo após uma discussão acalorada com o “velho capitalista” pediu as contas do trabalho, e chegando em casa listou tudo que não precisava, anunciou para trocar as coisas numa rede social, mas o engraçado que nenhuma das trocas se interessava. Como pode um videogame querer ser trocado por um skate? e mais ainda um paletó por um brinquedo infantil?
Sem paciência começou a entender que cada coisa tem o seu valor para que o dinheiro de fato seja a moeda de troca.
E os dias foram se passando, o tédio de ficar em casa, rendeu-lhe mais gastos de comida, sentia triste, já que o dinheiro da rescisão estava se acabando.
Decidiu então abrir um negócio, sem explorar ninguém, sendo ele o patrão e ao mesmo tempo empregado. Abriu uma barraca de frutas na rodovia. Comprava no Ceasa as frutas colocava um lucro pequeno de 20 %, também para que explorar os consumidores pensava. Na primeira semana até conseguiu vender tudo e lucrar 20%, dinheiro suficiente para pagar suas contas e comer.
Mas o problema começou quando na outra semana se fez um calor infernal, os mamões e as bananas amadureceram muito rápido e precisaria vender logo, caso contrário, perderia toda a mercadoria. Assim, resolveu diminuir a margem de lucro para 10%, até melhorou as vendas, mas não o suficiente, depois fez a preço de custo, já começou a perder mercadorias para o calor, muitos clientes, nem compravam, mesmo com a liquidação das frutas.
Ao término do final da semana, as mercadorias foram vendidos 10% abaixo do custo de compras e o pior 30% de toda a mercadoria foi jogada fora. Portanto o lucro da semana passada, virou prejuízo. Desanimado percebeu que precisaria de um lugar refrigerado, nas épocas do calor, mas teria que pagar energia e comprar o equipamento refrigerador. Para piorar como dispensou as mercadorias deterioradas no terreno do lado, o proprietário denunciou e o fiscal da prefeitura foi até sua barraca e aplicou uma severa multa.
Piorando mais, tinha comprado algumas frutas em consignação e como não pagou no prazo o seu fornecedor de bananas só aceitaria vender as frutas se pagasse à vista.
Sem capital de giro e no prejuízo Desivaldo resolveu fechar o seu grande empreendimento e ao vender as lonas e a estrutura de sua barraca, o comprador colocou tanto defeito nelas, que teve que vender pela metade do preço que tinha pago, pelo menos agora tinha dinheiro para pagar o seu fornecedor de bananas.
Desivaldo ao chegar em casa pega o livro o Capital de Karl Marx, anuncia-o no site de vendas de trocas e aparece lá uma boa troca: um relógio usado.
Olhando aquele relógio vê o tempo passar, segundo a segundo, e teve um estalo na mente, vou ter que procurar um trabalho, senão serei o “velho pobre”. Como tinha experiência na linha de produção da fábrica de bicicletas, foi na empresa BIKE BEAUTY, já que a RICCO não poderia mais trabalhar dada a briga com o antigo patrão.
Só que toda essa sina, lhe trouxe mais prejuízo, a empresa BIKE BEATY, concorrente da RICCO, até pagava igual o salário, mas não tinha plano de saúde e nem pagava auxílio transporte, mas isso não foi problema, já chegou devendo antes de receber o salário, pegou uma bicicleta da BEATY junto ao seu novo patrão e que iria ser dividido no contracheque em 10 vezes, pelo menos não era tão mal, fazia exercícios físicos torcendo para não ficar doente e depender do sistema público de saúde.
Enquanto ao livro o capital de Karl Marx, prometeu para si mesmo, que nunca iria ler nenhum livro sobre capitalismo, mente próspera, essas coisas são só baboseira pensava, já que já tinha na mente; “quem é rico sempre é rico, quem é pobre quando deseja ser rico dá tudo errado, cada um no seu quadrado” reclamava em pensamento
LEO LEITE
13/05/2025